“Agora que cresci você quer me namorar”

Chegou no forró por volta das dez. Ia deslumbrante, tava com vontade de se arrumar no dia. O vestido midi de estampa azul, amarela e vermelha, decote em V e fenda no joelho. Babyliss nos cachos para definição, mas ainda os soltou e bagunçou para dar volume, uma cacheada quase black power. 

Passou um rímel preto nos olhos. Delineador, base e corretivo direitinho. Batom vermelhão, brincos de argola médios e pulseiras nos braços. E se cobriu de gotas de jasmin, sândalo e flor de laranjeira, claro. Uma mulher bonita e cheirosa, ela todinha. Não duvida que, assim que entrou, cabeças viraram para olhar. Que ótimo, vim foi pra causar mesmo! 

Mandou mensagem para a amiga: Mulher, onde tu tá? Digitando: “perto do bar!”. Foi até lá e a encontrou, aquele monte de abraços e elogios uma para a outra. Fazia tempinho que não se viam. Tava com saudades de tu, mermã! “Eita, querida! Tu tá maravilhosa!” Tô me sentindo linda e quero mostrar isso!, era uma sequência de falas quase momentâneas das duas. Quero dançar um forrózinho, faz tempo que não saio. “Bora dar uma olhada para ver se aparece algum par!”

Farejando pelo salão, não acreditou no que viu. O crush platônico da adolescência, bem ali logo à frente, numa rodinha com outros homens. Ele tinha crescido mais, estava quase da altura da porta de entrada do salão. Cabelos pretos espetados, um belo par de sobrancelhas grossas. Olhinhos puxados. Quem fazia as meninas suspirarem na escola continuava bonito! Porte atlético, pelo que dava pra ver. Camiseta branca, calção marrom, tênis preto. O estilo mais sóbrio permanecia. O ar de que não queria chamar muito a atenção, mas era impossível. Dentes brancos perfeitos e as covinhas lindinhas, quando ele sorria sem jeito.

Ela fez toda essa análise em cinco minutos, sem piscar. Pelo visto a intensidade do olhar chegou nele, porque se virou para onde ela estava e a encarou. No começo, curiosidade. Depois o raio-x que os homens fazem da cabeça aos pés. Em seguida, a testa fez um sinal de interrogação. Depois veio o sorriso de quem lembrou. “Não acredito que é você! Tá linda!”. Como assim ele lembra de mim, meldeus?” Quase teve um treco.

A amiga do lado que já tinha ouvido falar muito dele, sacou na hora o que viu e sorriu. Oi, quanto tempo! Obrigada! Você também tá ótimo!. A pergunta seguinte fez a adolescente dentro dela vibrar: ‘Bora dançar?”. Ele estendeu a mão, fazendo graça e curvou o joelho, as covinha aparecendo de novo. Ela segurou a palma graciosa oferecida e se deixou levar.

Envelhecer como vinho tinha suas vantagens.

Por Manu Silva

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