As palavras que se tornam decretos

Às vezes me esqueço o poder autorrealizável das palavras. Quando eu disse lá atrás “eu assumo o risco”, racionalmente me senti segura e que estava consciente da minha decisão.

Mal sabia eu que ali eu tinha acabado de criar um decreto: vai dar merda e eu vou ter que resolver. Minhas palavras foram: “eu assumo o risco”. E não é que o risco aconteceu, em seu pior cenário? O que dizer disso? Obra do destino, má sorte, erro de cálculo, otimismo sagitariano? Posso encontrar várias coisas para culpar. Mas prefiro ser realista e responsabilizar a mim mesma. Olhar nos olhos daquela Emanuele do passado e dizer: perdão, errei, fui moleca.

Ao dizer aquelas palavras, mais uma vez eu abri mão de mim pelos outros, achando que daria conta de tudo. Cá estou, tomando doses dolorosas de frustração e decepção porque o risco que eu assumi me encontrou num futuro próximo.

Existem teorias que dizem que nossa jornada de vida não é linear, mas em formato de espiral. Sendo assim, vamos passando por vários pontos dessa espiral, em curvas que trazem situações repetidas. Ao passar pelo mesmo ponto, você tem um aprendizado possível: vai agir da mesma forma de antes ou vai perceber a cilada e dar um salto de consciência? Você consegue identificar e quebrar o padrão?

Quantas vezes eu já estive nesse lugar? Por que me coloco como a forte, a salvadora, a resolvedora de problemas, a que sustenta? Quantas vezes ser o arrimo me quebrou logo depois? Quantas vezes esse ponto da espiral me pega, porque simplesmente não consigo confiar que as pessoas possam viver suas vidas sem depender de mim? Por que essa tara maluca em ser útil?

Estou cansada. Sofrer pelos mesmos erros cansa. Esse ponto da espiral me acertou em cheio numa lua cheia capricorniana. Me fez transbordar em lágrimas de dor, de revolta, de arrependimento.

Eu estou cansada de cair nesse mesmo lugar, Vida. Eu acolho minha dor, eu vou ao fundo do poço desse sentimento, mas eu quero me lembrar, eu preciso me lembrar do dia de hoje. Eu preciso lembrar da dor de ser desestruturada por querer dar mais que posso. Eu preciso sentir até o fim para não sentir isso nunca mais.

Por isso, a partir de agora minhas novas palavras em forma de decreto são: os riscos que assumo são sobre mim e não sobre os outros. Eu deixarei que cada um assuma os seus BOs. A partir de agora sou humana, me permito aceitar ajuda, ser cuidada também. Acolho minhas vulnerabilidades. Respeito o espaço dos outros e confio que a jornada deles será sobre eles e que são capazes de sustentar suas existências. Essa obrigação não é minha. Eu estou livre. E assim é.

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