“Eu quero a sorte de um amor tranquilo
Com sabor de fruta mordida
Nós na batida no embalo da rede
Matando a sede na saliva”
(Cazuza)
Quando esse amor tranquilo chega, você está preparada pra ele?
Sinto que tendemos a acreditar que pra amar será necessário tudo começar com o fogo arrebatador da paixão.
Toda aquela ansiedade, noites sem dormir, falta de apetite. As incertezas de como vai ser o primeiro beijo, o abraço, do que vai se encaixar ou não.
Um frio na barriga sem fim, a montanha russa dos picos de alegria às profundezas da frustração. Só será amor se tiver um drama, um desencontro, obstáculos.
Afinal, as comédias românticas estão aí, com suas histórias de amor “impossíveis”, “opostos que se atraem”, “tenho que mudar pra ser notada” e por aí vai.
É toda uma construção de que pra ser amor tem que ser essa loucura inicial, tem que ser sofrido, uma paixão arrebatadora, estilo Romeu e Julieta (mas que ninguém lembra que eles morrem no final).
E aí chega um tempo que você vai lendo umas coisas interessantes, como Sofonfu Somé e bell hooks, e de repente, você se depara com novas possibilidade de amor e de amar.
Você entende que amar pode ser um lugar de cura, de paz, de tranquilidade. De construção diária. Que requer a presença do espírito e de rituais de intimidade e de afeto. E que além de tudo isso, te é totalmente desnecessário, porque não é porque você precisa, mas porque você quer.
Mas não é só entender. Não é só teoria. A vida vai te colocar no lugar de experienciar tudo isso. Afinal, não era isso que você queria? Muito cuidado com o que você pede! Hahaha
E quando esse mestre, o Amor, te encontra cara a cara, aí você vê literalmente como as estruturas ainda estão dentro de você. Você questiona a falta de drama e de obstáculos. Você começa a criar obstáculos. E as tuas sombras começam a surgir.
Isso tudo porque é se relacionando que você acessa lugares que sozinha não iria. O outro é teu espelho. Como você lida com isso? Eu quero a sorte de um amor tranquilo sim, Cazuza. Hoje eu aceito ele como plenamente possível. É um lugar novo, que se explora aos pouquinhos. Que se constrói degrau por degrau, quebrando anos de migalhas, crenças, silenciamento. Mas é bonito de caminhar.
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