Fui levada por Nathan e Kelly a refletir sobre meus desejos. Primeiro, a pensar: o que seria desejo? A parte que falta? A imagem do urso olhando para a colmeia cheia de mel e desejando-a? O que me move, o que eu busco, mas que também me angustia?

Nos últimos meses, pensar em desejos não tem sido fácil. Quando entro no “modo de sobrevivência”, a vida se torna uma grande zona cinzenta, onde não há tempo para nada além de trabalhar, produzir, pagar contas. Quando as necessidades básicas estão em desequilíbrio, não consigo desejar. A libido e a criatividade desaparecem, e a sensação de estar presa na corrida dos ratos se torna mais forte.

A “sorte” é que aprendi a conhecer meu corpo de tal forma que, ao primeiro sinal de exaustão ou ansiedade, já digo: opa! Estou me sabotando! Parou, parou! Percebo que me sacrificar não vai resolver nada. Não vou me deixar danificar novamente. Devem existir outras formas de viver além de simplesmente sobreviver neste mundo.

Quando chego nesse ponto, tudo passa do cinza ao colorido. Percebo um desejo intenso de criar dentro de mim, que precisa transbordar em textos, falas e conversas. Retomo meu lado criativo e volto a escrever diariamente. Consigo expressar exatamente o que desejo profissionalmente. Tenho coragem de ousar ocupar lugares que talvez nunca tivesse sonhado para mim.

Percebo que preciso manter a chama do desejo acesa. Quando entendemos que o externo é um reflexo do interno, vemos que as pessoas nos tratam como nos tratamos. As oportunidades chegam à medida que acreditamos estar prontos para vivê-las. E não há como desejar o outro se o desejo não existe primeiro em nós. Você se deseja?

Por outro lado, como lido com o desejo do outro? Como quero ser desejada? Para uma mulher negra, lidar com os desejos alheios é desafiador. É se incomodar com o caixa do banco que faz perguntas inapropriadas, achando que você vai se sentir lisonjeada pelo assédio; é sentir o soco no estômago ao ouvir denúncias graves de assédio envolvendo pessoas que você admirava, percebendo que não estamos seguras em nenhum lugar. É querer ser desejada, mas, às vezes, ter muito medo disso. E isso faz você trocar a blusa decotada e pensar: que p*rra de mundo, onde não posso me vestir como quiser.

É pensar que muitas vezes desejamos tantas coisas e, quando finalmente as conseguimos, não nos damos tempo para aproveitar. “A vida é uma constante oscilação entre a ânsia de ter e o tédio de possuir”, disse Arthur Schopenhauer — obrigada por citar essa frase, Luiza! E como esse desejo de ter pode ser um reflexo do que dizem que devemos querer? E se eu não quiser o mesmo que todo mundo?

No fim, é pintar um quadro com todos os desejos que te vieram naquela noite (que você vai emoldurar), regada pelos olhares confirmatórios de almas com as quais você não precisa se explicar porque a gente se conecta na dor, mas também na potência.

Eu desejo poder desejar.

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