A primeira vez que ouvi essa frase do título da boca de um amigo, entrei em choque. Eu, que sempre tive uma relação tão forte com o trabalho, que comecei a trabalhar aos 16 anos, que já tive jornadas das 8h às 20h e sempre achei que o trabalho era algo que eu devia amar, me questionei se estava certa em minha devoção.

Durante boa parte da minha trajetória profissional, seja como empregada, seja como empregadora, o trabalho ocupou uma parte significativa da minha vida. Conquistei várias coisas por meio do trabalho, sempre tive oportunidades graças a ele e, ao longo desses anos, passei poucos períodos sem trabalhar.

Acontece que, no meio do caminho, tinha uma… pandemiaNo primeiro momento, mesmo em meio ao desespero de não saber com o que estávamos lidando, consegui rapidamente levar meu trabalho do físico para o virtual. Estava vivendo o tão sonhado home office, trabalhando muito, tentando ocupar a mente para não pensar na COVID-19. Mas bastou um mês para eu conhecer o que era uma crise de ansiedade de verdade.

E aí, como diz a Pitty: “Pane no sistema, alguém me desconfigurou”. Do nada, o corpo disparando, o medo súbito de morrer, de perder minha sanidade, minha inteligência. E uma sensação de culpa imensa por ter chegado nesse estado e ter feito isso com meu corpo.

Depois de muita terapia, cuidados da família, afastamentos e descanso, aos poucos fui melhorando. Nesse caminho, percebi que precisava repensar várias coisas na minha vida, e uma delas era minha relação com o trabalho. Ele não poderia mais ocupar o centro da minha vida a ponto de me adoecer.

Eu, que já era uma pessoa muito tecnológica e que gostava de estudar métodos de produtividade, passei a olhar para isso com mais atenção. Como ter qualidade de vida, principalmente numa rotina em que casa e trabalho estão no mesmo lugar físico? Como estabelecer limites no home office?

Também passei a não romantizar mais o trabalho em si. A gente passa a questionar tanta coisa, sabe? Como a desigualdade social parece nos colocar numa corrida de ratos, onde, por mais que trabalhemos, o dinheiro fica concentrado em poucas mãos. Como, ao longo do tempo, estamos vendo a precarização do trabalho, com cada vez menos direitos sendo garantidos aos trabalhadores. Como pode ser perigoso o discurso de empreendedorismo, quando, na verdade, você tem que estar ali para sobreviver.

E, além de tudo isso, falar de saúde mental. Quantas vezes suportamos ambientes ou chefes tóxicos porque não vemos formas de sair desses lugares? Ou até mesmo não podemos, pelos boletos, pela família, pela dificuldade de fazer uma reserva? Como se instaura uma lógica de poder em que gestores não se dão ao trabalho de aprender sobre pessoas e saem traumatizando com exigências descabidas, assédio e até xingamentos?

É por isso que, para mim, propósito não é igual a trabalho ou profissão. Não sou tal profissão “por amor”. Trabalho não é igual a dinheiro e nem necessariamente traz felicidade. Hoje vejo meu ofício, qualquer que seja o que estou fazendo, como uma parte da minha vida. Não preciso amar todos os dias, mas preciso que faça sentido para mim. Sobretudo, que haja respeito, um ambiente de aprendizado e que não me violente.

Depois que passei por certas coisas e tomei algumas decisões difíceis na vida, é muito difícil aceitar ser maltratada ou receber menos do que mereço. Isso inclui tornar o trabalho um local de paz e não de caos. Essa tem sido minha meta depois da pane no sistema (pela qual não quero nunca mais passar).

E para você, como tem sido a relação com trabalho? Me responde aí, vou gostar de papear sobre isso!

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